Lisboa voltou a respirar futebol, mas também tensão e orgulho, depois das declarações firmes e surpreendentes de Rui Costa. O presidente do Sport Lisboa e Benfica colocou fim a semanas de especulações, rumores e manchetes que tentavam adivinhar o seu futuro. Com voz serena, mas olhar determinado, Rui Costa deixou claro: não vai demitir-se. “Tenho total legitimidade para cumprir o meu mandato até outubro. Fui eleito, sou presidente do Benfica e tenho consciência do lugar que ocupo”, afirmou diante das câmaras, num discurso que rapidamente incendiou as redes sociais e mexeu com o coração dos adeptos encarnados.
As palavras caíram como um raio na Luz — tanto pela força do tom como pelo momento em que foram ditas. Nas últimas semanas, o Benfica viveu um ambiente de pressão crescente, entre resultados irregulares e rumores de descontentamento interno. Alguns setores da massa associativa pediam a sua saída imediata, apontando falhas na gestão desportiva e administrativa. Outros, pelo contrário, viam nele um símbolo de estabilidade e continuidade. Rui Costa, um homem que construiu a sua carreira dentro do clube — primeiro como maestro no relvado, agora como dirigente —, optou por enfrentar a tempestade de frente.
“Não me demito, porque acredito no trabalho que estamos a fazer”, disse, num tom que misturava firmeza e emoção. “Não fujo à responsabilidade. Sei o peso que este cargo tem, e sei também o quanto o Benfica significa para milhões de pessoas. O clube não precisa de mais ruído, precisa de foco e de união.” As palavras ecoaram como um manifesto, e para muitos, foram um lembrete de quem Rui Costa é: um benfiquista que vive e respira o clube desde criança.
A reação não tardou. Pouco depois do discurso, os adeptos dividiram-se. Uns aplaudiram de pé nas redes, chamando-o de “homem de coragem” e “presidente com alma”. Outros mantiveram o ceticismo, questionando se a sua permanência seria mesmo o melhor para o futuro do clube. Mas independentemente das opiniões, uma coisa ficou clara — Rui Costa não é homem de abandonar o barco em meio à tempestade.
Nos corredores da Luz, fala-se que a decisão de vir a público foi cuidadosamente pensada. Havia pressão interna para que ele desse uma resposta firme e pública, especialmente depois das derrotas recentes e das críticas à gestão das transferências. O presidente sabia que o silêncio prolongado estava a alimentar rumores, e decidiu agir. “A minha decisão não está relacionada com o Mundial de Clubes. Se estivesse, esperava pela Supertaça ou pela Liga dos Campeões para anunciar a minha posição”, explicou, antecipando as teorias que já começavam a circular.
Ao ouvir essas palavras, alguns jornalistas presentes comentaram entre si: “Ele não está apenas a responder — ele está a marcar território.” E foi exatamente isso que aconteceu. Rui Costa, com a experiência de quem jogou nos maiores palcos do futebol mundial e com a serenidade de quem conhece o peso da história do Benfica, reafirmou a sua autoridade de forma inequívoca.
Para entender o alcance da sua declaração, é preciso recordar o contexto. O Benfica tem vivido meses intensos, com a saída de figuras importantes, resultados inconsistentes e uma massa associativa exigente, como sempre. O legado de Rui Costa é constantemente posto à prova, e cada decisão é dissecada pela imprensa e pelos adeptos. Desde a sua eleição, o antigo craque tem tentado equilibrar modernização e tradição — uma tarefa difícil num clube com tanta história e expectativa.
Muitos ainda recordam o Rui Costa jogador: elegante, técnico, cerebral. O número 10 que conduzia o jogo com classe, que falava pouco, mas dizia tudo com um passe. Hoje, como presidente, o estilo é semelhante: fala pouco, mas quando fala, é para ser ouvido. E nesta semana, foi ouvido por todo o país.
No Seixal, dizem que as palavras do presidente tiveram impacto imediato. Jogadores e funcionários sentiram que era um sinal de força e de confiança. “Quando o presidente fala assim, todos percebem que o projeto continua. Que não há espaço para dúvidas”, comentou um membro da equipa técnica, sob anonimato. “Ele podia ter ficado em silêncio, mas escolheu proteger o grupo.”
Entre os antigos colegas e dirigentes, as opiniões também são fortes. Um ex-dirigente encarnado, hoje afastado da vida política do clube, afirmou: “Rui Costa tem uma coisa que poucos têm: legitimidade moral. Ele conhece o Benfica por dentro, foi campeão com o clube, sabe o que é estar dentro e fora do campo. Mesmo quem o critica, respeita-o. Isso vale muito em tempos de crise.”
No entanto, a decisão de não se demitir também traz riscos. A pressão continuará, e cada jogo, cada derrota, será visto como um teste à sua liderança. Rui Costa sabe disso, mas parece preparado. “A minha função não é agradar a todos, é fazer o que é certo para o Benfica”, afirmou, de forma quase filosófica. “E fazer o que é certo, às vezes, é suportar o peso do silêncio, outras vezes é enfrentar o ruído. Hoje, eu escolhi falar.”
Nas horas que se seguiram, os principais jornais desportivos destacaram a declaração como um ponto de viragem. “Rui Costa mantém-se firme”, escreveu o Record. “Presidente desafia a crise e aposta na continuidade”, titulou A Bola. Na rádio, comentadores lembraram que o antigo jogador é conhecido pela sua paciência estratégica — um homem que pensa a longo prazo, mesmo quando o ambiente pede decisões rápidas.
No universo benfiquista, onde a paixão é medida em vitórias e títulos, a estabilidade é um luxo raro. Mas Rui Costa parece acreditar que é exatamente disso que o clube precisa. “O Benfica tem de se reerguer, mas não o fará à custa de impulsos. Temos um caminho, e vamos segui-lo com cabeça fria e coração quente”, afirmou no final da sua intervenção, arrancando aplausos até de alguns dos críticos mais duros presentes no auditório.
O impacto das suas palavras foi além do desportivo. Nas horas seguintes, a cotação simbólica do “estado de espírito” benfiquista subiu. As lojas do clube registaram aumento nas vendas de camisolas e cachecóis, as redes sociais foram inundadas com mensagens de apoio, e até antigos jogadores, como Nuno Gomes e Simão Sabrosa, partilharam mensagens de respeito e confiança. “O Rui é Benfica. E o Benfica é o Rui”, escreveu Simão no X (antigo Twitter).
Ainda é cedo para saber se este discurso marcará o início de uma nova fase ou apenas um momento de resistência num mar agitado. Mas o que ninguém pode negar é que Rui Costa mostrou que, mesmo fora do relvado, continua a ter o mesmo sangue de líder que o distinguiu como jogador. E num tempo em que o futebol muitas vezes se perde em interesses e vaidades, ver alguém defender o símbolo com tanta convicção é, por si só, uma vitória.
