O mundo do futebol português voltou a ser abalado por declarações fortes vindas de um dos nomes mais marcantes da história recente do Benfica. Luís Filipe Vieira, ex-presidente do clube da Luz, decidiu quebrar o silêncio e lançar duras críticas ao atual dirigente encarnado, Rui Costa. Numa entrevista carregada de emoção, ressentimento e desilusão, Vieira afirmou sem rodeios: “Nunca foi líder, nem nunca será. Fui dos presidentes com mais castigos, não me revejo de maneira nenhuma neste Benfica. Quero acabar o que deixei por fazer.”
As palavras de Vieira caíram como uma bomba no universo benfiquista. Muitos viram nelas um grito de revolta, outros um sinal claro de que o antigo presidente não desistiu da ideia de um possível regresso. A relação entre os dois antigos colegas de direção, que já foi cordial, parece agora completamente destruída. Rui Costa, que durante anos foi visto como um símbolo de elegância e respeito dentro do futebol português, viu a sua liderança ser publicamente posta em causa pelo homem que o lançou na estrutura do clube.
Vieira liderou o Benfica durante quase duas décadas, sendo o responsável por um período de grande estabilidade financeira e vários títulos nacionais. No entanto, a sua saída, em 2021, após um escândalo judicial, marcou um ponto de viragem na história recente do clube. Muitos esperavam que, com Rui Costa ao leme, o Benfica entrasse numa nova era — mais transparente, moderna e próxima dos adeptos. Mas, segundo Vieira, o rumo tomado desde então tem sido tudo menos inspirador.
O ex-presidente mostrou-se profundamente desiludido com o caminho que o Benfica está a seguir. “Este Benfica não tem alma. Falta-lhe liderança, falta-lhe paixão, falta-lhe a garra que sempre distinguiu este clube. Rui Costa é um símbolo como jogador, mas ser presidente é outra coisa. É preciso ter coragem para decidir, para enfrentar críticas, e isso ele não tem,” afirmou Vieira num tom firme, deixando claro que a sua crítica não era apenas pessoal, mas também institucional.
Os comentários geraram reações imediatas dentro e fora do clube. Fontes próximas da direção benfiquista, segundo relatos da imprensa portuguesa, garantem que Rui Costa ficou “profundamente desapontado” com as declarações de Vieira, considerando-as “injustas e desnecessárias”. No entanto, até ao momento, o atual presidente manteve o silêncio público, uma estratégia habitual de alguém que prefere evitar alimentar polémicas.
Vieira, por outro lado, parece disposto a manter o tema vivo. Durante a entrevista, falou várias vezes sobre o legado que acredita ter deixado no Benfica. “Eu peguei num clube que estava praticamente falido e deixei uma instituição sólida, respeitada, com património, com títulos e com futuro. Fiz sacrifícios pessoais e financeiros que poucos fariam. E agora vejo um Benfica que não reconheço. Um Benfica que perdeu a sua identidade,” desabafou.
Os adeptos, como seria de esperar, dividiram-se. Nas redes sociais, o debate rapidamente se incendiou. Uns defenderam Vieira, recordando os anos de sucesso, as conquistas no campeonato e o renascimento financeiro do clube. Outros, porém, acusaram-no de estar a tentar manchar a imagem de Rui Costa e de não aceitar o fim da sua era. “Vieira fala como se o Benfica fosse dele. Mas o Benfica é dos sócios,” escreveu um adepto nas redes. Outro respondeu: “Sem Vieira, o Benfica nunca teria recuperado. Ele tem o direito de criticar se sente que o clube está a perder o rumo.”
Esta guerra de palavras entre duas das figuras mais icónicas da história moderna do clube promete prolongar-se. Internamente, há quem tema que o clima de divisão possa afetar o rendimento da equipa, que vive uma temporada irregular e tem sido alvo de críticas pela falta de consistência nas competições europeias.
Curiosamente, Vieira também deixou no ar a possibilidade de voltar ao ativo. “Não digo que quero regressar amanhã, mas não fecho portas. Há coisas que ficaram por fazer, e se os benfiquistas acharem que ainda posso ajudar, estarei pronto,” afirmou, deixando uma mensagem ambígua que muitos interpretaram como uma pré-candidatura velada às próximas eleições.
Desde a sua saída, Luís Filipe Vieira manteve-se afastado dos holofotes, focando-se nos seus negócios pessoais e mantendo um perfil discreto. O seu regresso mediático, com declarações tão fortes, reacende inevitavelmente especulações sobre as suas intenções políticas dentro do clube.
Enquanto isso, Rui Costa tenta consolidar a sua própria visão de presidência, baseada na modernização da estrutura, aposta em jovens talentos e na reaproximação entre adeptos e direção. Apesar de algumas conquistas recentes, como o título nacional conquistado em 2023, o ambiente à volta da equipa tem sido de exigência máxima, e qualquer deslize é imediatamente amplificado.
O silêncio de Rui Costa após este ataque poderá ser estratégico. Historicamente, o atual presidente sempre preferiu deixar que as suas ações falem mais alto do que as palavras. Mas, neste caso, o ataque vem de alguém com peso histórico e emocional dentro do clube, o que torna difícil ignorar. Muitos esperam que Rui Costa, em algum momento, responda — nem que seja de forma subtil — para reafirmar a sua autoridade e o seu compromisso com o futuro do Benfica.
Por outro lado, a entrevista de Vieira também traz à tona um tema maior: o conflito entre passado e futuro no futebol português. O contraste entre a “velha guarda” de dirigentes, com estilos mais diretos e autoritários, e uma nova geração que tenta gerir clubes como empresas modernas, focadas em marketing, tecnologia e diplomacia. Vieira representa o primeiro grupo; Rui Costa, o segundo. E esse choque de visões reflete-se não apenas no Benfica, mas em todo o panorama desportivo do país.
Para os adeptos, o essencial continua a ser o mesmo — ver o Benfica forte, competitivo e unido. Mas com declarações como estas, a unidade parece cada vez mais difícil de alcançar. “Este tipo de guerras internas só enfraquecem o clube,” lamentou um ex-jogador em declarações à imprensa. “Vieira devia usar a sua influência para ajudar, não para dividir.”
Ainda assim, é impossível negar que o ex-presidente conhece o poder das palavras e sabe exatamente quando usá-las. A sua entrevista, em pleno período de incerteza desportiva, reacende o debate sobre liderança e direção no clube. E talvez seja exatamente esse o seu objetivo — relembrar a todos que, mesmo fora do cargo, o seu nome ainda pesa no universo benfiquista.
No final, as palavras de Vieira ecoam como um desafio e uma provocação: “Eu fui líder quando o clube precisava de coragem. Hoje, o Benfica precisa de alguém com essa mesma coragem.”
Se essa coragem virá de Rui Costa ou de outro nome no futuro, só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: o Benfica, mais uma vez, encontra-se no centro das atenções, não por causa de um jogo em campo, mas por uma batalha de egos e visões fora dele.
O ruído político regressa à Luz — e, como sempre, o povo benfiquista observa, dividido entre a gratidão pelo passado e a esperança de um futuro mais sereno.